Só Templates

Créditos



Layout by



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma Infância Perdida para o Tráfico


O perfil do adolescente infrator de Londrina mudou nos últimos sete anos. Até 2001 a garota e o garoto com menos de 18 anos envolvidos na criminalidade que chegavam até à Vara da Infância e Juventude eram usuários de cola de sapateiro e tiner e cometiam furtos. A partir deste período este mesmo adolescente passou a ser usuário de crack, começou a roubar, portar armas e se envolver com o tráfico de drogas. A avaliação é da Vara da Infância e Juventude e tem respaldo em dados oficiais da Polícia Civil.
Segundo levantamento feito entre julho e outubro do ano passado pelo delegado-chefe da 10ª Subdivisão Policial, Sérgio Barrozo, os adolescentes representaram 43% do total de presos por roubo, 41% dos infratores detidos por tráfico de drogas e 18% por porte de armas. Barrozo considera que os dados refletem a média de 2007 da participação de menores em cada um destes atos infracionais. “Estes percentuais mostram que infelizmente nosso jovem está sem perspectiva de futuro e de vida”, afirma.
As causas que levaram o adolescente do furto ao roubo e depois ao tráfico, segundo a promotora da Vara da Infância e Juventude, Édina Maria de Paula, estão relacionadas à organização do tráfico de drogas em Londrina. “A quantidade de roubos praticados pelos adolescentes passou a ser maior que a de furtos quando o tráfico de entorpecentes explodiu em Londrina de uma forma sistematizada”, sustenta. “Os adolescentes começaram então a ser também aliciados para o tráfico.”
Na avaliação da promotora, esta mudança de perfil do adolescente infrator, que começou a se desenhar partir do final da década de 90, teve outro fator contribuinte: a emenda constitucional número 20, que restringiu o trabalho adolescente. “Esta emenda fechou as portas de trabalho que o adolescente tinha no bairro onde morava e o jogou no mercado de trabalho ilícito, deixando-o mais vulnerável para ser aliciado pelo tráfico de drogas”, constata. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, dos 12 aos 14 anos o menor só pode trabalhar como aprendiz, e de 14 a 16, em serviços profissionalizantes.


“Três oitão”


Com a sistematização do tráfico, de acordo com a promotora da Vara da Infância e Juventude, vieram o acesso às armas e o consumo de drogas pesadas, como o crack. Segundo Édina de Paula, os adolescentes infratores começaram a trocar a cola de sapateiro e o tiner pelo crack a partir de 1999, quando houve a “entrada maciça de crack na cidade”. “Dos que passam hoje pela Vara da Infância e Juventude, 75% têm porte de armas e cometem roubos. E todos utilizam crack”, afirma.
“Os adolescentes passaram a roubar para comprar a droga e as armas. Eles pagam entre R$ 400 e R$ 500 pelo ‘três oitão’, como dizem”, conta a promotora, se referindo ao revólver calibre 38. Ela não tem números, mas diz que a organização do tráfico de entorpecentes em Londrina também promoveu um aumento na quantidade de assassinatos de adolescentes por brigas pelo domínio de pontos de venda de drogas.

Há pais sem esperança


Assim como o perfil dos adolescentes infratores de Londrina, o comportamento da família destes jovens também mudou. Segundo a promotora da Vara da Infância e Juventude, Édina Maria de Paula, os pais já não sabem o que fazer e esperam que a promotoria encontre uma solução. “Antes as mães vinham aqui e choravam quando seus filhos eram presos. Hoje nem aparecem e quando aparecem é para nos pedir que interne seus filhos porque não agüentam mais”.
A grande maioria dos infratores, segundo a promotora, estudou só até a 5ª série do Ensino Fundamental e vem de famílias pobres e desestruturadas. É o caso de um menino de apenas 10 anos. A promotora conta que a mãe do garoto já morreu e ele vivia com a avó. Apreendido pelo Conselho Tutelar por envolvimento com o tráfico de drogas, o menor foi encaminhado para a Vara da Infância e Juventude. “Ninguém da família quer saber do menino, então ele foi encaminhado para um abrigo municipal, de onde já fugiu”, afirma a promotora.

Delegado vê solução na educação


O objetivo do delegado-chefe de Londrina, Sérgio Barrozo, em catalogar os crimes cometidos na cidade por faixa etária é demonstrar que a segurança pública não é um problema apenas de polícia, mas social.
Barrozo sustenta que é papel da polícia “prender traficante”, coibir a criminalidade, mas que é preciso investir na área social. Entre os principais problemas que envolvem o adolescente infrator, na avaliação do delegado-chefe, estão a utilização de drogas e o baixo grau de escolaridade.
O delegado defende educação integral e novos centros de tratamento e recuperação para os usuários de drogas. “Hoje a lei proíbe a internação sem a anuência da pessoa. Mas num primeiro momento, quando o adolescente não tem condições de discernimento, deveria ser permitida a internação compulsória”, defende.


Filho de assaltante virou infrator aos 8 anos


O caso de um garoto atendido várias vezes pela Vara da Infância e Juventude ilustra uma situação preocupante: segundo a promotora Édina Maria de Paula, muitos adolescentes entram para o mundo da criminalidade pelas mãos da própria família. Ela conta que o pai desse menor era um criminoso conhecido em Londrina e passou a praticar assaltos na presença do filho, que se iniciou no crime com apenas oito anos. O pai morreu e o adolescente, hoje com 16 anos, já foi apreendido diversas vezes.


Jovem de classe média usa drogas desde os 14


São muitos os casos que chegam diariamente até à Vara da Infância e Juventude. E alguns têm como protagonistas adolescentes de classe média, com famílias estruturadas. “Há duas semanas atendi um adolescente de 17 anos, com a mãe, professora universitária”, conta a promotora Edna Maria de Paula. O garoto está envolvido com drogas desde os 14 anos e foi apreendido pelo envolvimento com tráfico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário